ESPIRITUALIDADE SEM-RELIGIÃO: O CULTIVO DA QUALIDADE HUMANA
DOI:
https://doi.org/10.20911/21769389v47n149p605/2020Resumo
O presente artigo reúne contribuições para o pensar sobre espiritualidades sem religião, não religiosas ou laicas. Por um lado, são abordados os sentidos de espiritualidades autônomas e independentes da crença, do corpo doutrinário e da organização comunitária representadas por instituições religiosas. Por outro lado, a reflexão versa sobre o cultivo da qualidade humana e da qualidade humana profunda a partir de uma concepção antropológica não-dual, segundo a qual o animal humano, como animal de fala, acessa a realidade e a modela como dimensão relativa à s suas necessidades e como dimensão para além das suas necessidades. Ainda que nosso horizonte nos conduza a uma necessária superação dos termos religião e espiritualidade, considerados como fruto de projetos axiológicos não mais adequados a sociedades marcadas por um intenso processo de mudança constante, tais como as contemporâneas sociedades de conhecimento e de inovação, para o tratamento da questão, consideraremos ser adequado tratar alguns conceitos-chave de uma concepção tradicional sobre esses termos. Nesse sentido, procuramos apresentar, ainda que brevemente, alguma delimitação sobre esses termos em nosso trabalho. O objetivo principal, contudo, é problematizar a questão da espiritualidade sem religião como cultivo da qualidade humana à luz da teoria reconhecida como epistemologia axiológica, elaborada pelo pensador Marià Corbí. Questionamos o sentido de espiritualidade como decorrente da condição humana em sentido tradicional, a partir da consideração de que, fundamentalmente, o animal humano deva ser compreendido como um ser de linguagem. Como aponta a teoria corbiniana, o animal que fala, como ser necessitado, possui como mecanismo de sobrevivência atuar como um modelador da realidade e, nesse sentido, se processa o acesso não dual à dimensão absoluta do real (DA) e a dimensão relativa do real (DR). Nesse horizonte teórico-prático, entendemos por espiritualidade, [considerando-a especificamente como o cultivo da qualidade humana e da qualidade humana profunda], o processo decorrente de um projeto axiológico coletivo, que proporciona a realização da pessoa a partir do interesse incondicional pela realidade, do distanciamento e do silenciamento (IDS); cultivados como indagação livre, comunicação e serviço mútuo (ICS).Â