Os infortúnios da reflexão: considerações sobre a ética das virtudes de Julia Annas a partir de Nietzsche e Bernard Williams
DOI:
https://doi.org/10.20911/25260782v10n1p70/2025Resumo
Um otimismo quanto a reflexão paira sobre nossas considerações éticas. Otimismo caracterizado pelas seguintes premissas: 1) é impossível que a reflexão destrua o conhecimento moral e, se pode haver conhecimento, ele deve ser propiciado pela reflexão e 2) o conhecimento moral é aquilo que mais importa e estaríamos piores sem ele. Em meu artigo, identifico a presença de ambas premissas na abordagem das virtudes de Julia Annas, em especial, em seu livro Inteligent Virtue. Presença sempre acompanhada da figura de Sócrates: o promotor da reflexão. Na sequência, desafio a figura de Sócrates e ambas as premissas otimistas utilizando tanto Nietzsche, em seus livros Além do Bem e do Mal e Crepúsculo do Ídolos, como Bernard Williams, em seu livro Ethics and the Limits of Philosophy. Meu desafio consiste em enfatizar, partindo dos dois autores, as consequências corrosivas da reflexão: a desconfiança, o desamparo, o comprometimento produzido nos agentes engajado em refletir. Enfatizo, também, o não efeito da reflexão: sua provável ineficácia em variados casos. Concluo o artigo, com uma consideração nietzschiana, tanto evidenciando a presença da “vontade de verdade” motivando ambas premissas otimistas, quanto questionando se devemos compreender sempre nossa vida ética sob o jugo dessa vontade.
Palavras-chave: Virtude, Reflexão, Ética, Verdade, Pessimismo.